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Arte atemporal

Arte atemporal

 

Marco Polo

 

Um tesouro enterrado nas areias do tempo e do esquecimento. É como se pode definir o CD Samba de São João, quarto trabalho do cantor pernambucano Geraldo Maia. Delicadeza de renda, trama de teia de aranha, vôo de borboleta são analogias que também se podem fazer ao disco, todo ele costurado por arranjos que disfarçam numa aparente simplicidade a elaboração e sensibilidade com que foram concebidos.

A partir da pesquisa “Pernambucanos no Disco”, do jornalista Renato Phaelante, Geraldo pinçou obras praticamente desconhecidas de compositores pernambucanos célebres como Capiba, João Pernambuco, Luperce Miranda, Manezinho Araújo e Irmãos Valença, e também de outros menos famosos como Artur de Castro, Aldo Taranto, Luiz Peixoto, Heckel Tavares, Jaime Florence, mais conhecido como Meira, Stefana de Macedo, Marcial Mota, Eustórgio Wanderley e Osvaldo Santiago, cobrindo um arco que vai de 1928 a 1955,.

O disco abre com “Ronca o Bizouro na Fulô”, de João Pernambuco e Stefana de Macedo, um choro bem humorado (que valha o paradoxo), em linguagem matuta, acompanhado pelo Arabiando, grupo especializado em samba e chorinho.

Em andamento de guarânia, mas com uma tessitura clara de cordas e percussão, segue-se “Serenata Suburbana”, de Capiba, com uma letra em que se contrapõem leves arabescos verbais que ecoam o barroco: “Se eu fosse realmente/ Muito feliz/ Não chorava quando eu canto/ Não cantava/ Para abafar meu pranto”.

A música que dá nome ao disco, de autoria de Luperce Miranda, é a única que faz referência aos festejos juninos, desenhando cenas de fogueiras e fogos, embora soe mais como uma embolada à qual o arranjo agrega alguns compassos de arrasta-pé, como que para acentuar o ritmo meio dançante. É a canção do disco que mais insinua este aspecto.

“Xô-Xô”, do mesmo Luperce, é um samba de letra curta e melodia cantante, com vocais de reforço. Em equilíbrio e contraponto, a ela se segue “Pra onde vai, Valente?”, uma embolada de Manezinho Araújo, de letra quilométrica e melodia ondulante, quase falada, acompanhada com segurança pelo grupo de forró Azabumba.

A bela e dolente “Por que me abandonas?”, de Eustórgio Wanderley e Artur de Castro, tem a participação de Claudionor Germano, mostrando aqui que sua competência vai além das interpretações de frevo que o fizeram famoso. O humor retorna em “Sôdade de Pernambuco”, da Manezinho Araújo, dando a Geraldo Maia a oportunidade de se permitir alguma brincadeira.

Se a música anterior tem clima alegre, “Começo de Vida”, de Capiba, está na clave da tristeza. O arranjo minimalista – só violão e violoncelo – serve de moldura para o intérprete valorizar a letra desesperançada do compositor pernambucano, também mais conhecido por seus alegríssimos frevos.

“Eternamente”, de Aldo Taranto e Osvaldo Santiago, tem participação de Geraldo Azevedo. É seguida da bela e animada “Azulão”, de João Pernambuco, Heckel Tavares e Luiz Peixoto, canção que retoma o mote da homônima, de Manuel Bandeira e Jaime Ovalle, que utiliza o pássaro como mensageiro para a amada.

A penúltima faixa é a dolente valsa “Fatal Desilusão”, de Meira e Marcial Mota. O CD Samba de São João fecha com “Malmequer”, dos Irmãos Valença, em que Geraldo Maia - que é descendente de portugueses e morou dez anos em Portugal -, recria o sotaque lusitano como que para amplificar o clima da canção. Aliás, se há um clima dominante neste CD é o de uma suave melancolia típica de alguns fados. Em todas as faixas o uso da percussão é mínimo; quase todos os ritmos estão de algum modo diluídos. Os arranjos, com poucos instrumentos, reforçam a intenção de dar destaque à letra/melodia das canções e à força interpretativa do cantor.

Como paisagem sonora o disco nos remete a um tempo em que as ilusões ainda não tinham sido perdidas. Um tempo em que o amor era romântico e mesmo a malandragem era permeada pela ingenuidade. Enfim, um tempo lento e suave, em que era possível fruir a vida com a calma de quem saboreava um refresco de maracujá na varanda de casa, sentado numa cadeira de balanço, tomando uma brisa.

Samba de São João é, por essas qualidades, um disco que, segundo uma expressão d’antanho, funciona como um refrigério para a alma. Mas não se pense que é disco apenas para almas nostálgicas. A boa arte é atemporal. Quem gosta de melodias bonitas e tranqüilas, arranjos elegantes, letras vivazes e interpretação refinada, vai se deleitar com esse novo trabalho em disco de Geraldo Maia. 

 

Ficha técnica

Produzido por: Geraldo Maia, Publius e Rodrigo Samico | Repertório: Geraldo Maia, baseado na Pesquisa “Pernambucanos no Disco”, do pesquisador Renato Phaelante. | Textos biográficos e Arquivo fotográfico: Renato Phaelante  com apoio de Evaldo Donato e Carlos Ramos | Produção Executiva: Filomena Maia com apoio de Mariana e Roberta | Projeto Gráfico: Ana Rios | Editoração de Imagens: Robson Lemos | Arranjos: Geraldo Maia, Rodrigo Samico e Publius, com a contribuição dos músicos convidados, exceto: “Ronca o bisouro na fulô” (Arabiando)”, “Pra onde vai, valente?” (Azabumba), “Começo de vida” (Geraldo Maia), “Eternamente” (Geraldo Azevedo) e “Malmequer” (Geraldo Maia e Rodrigo Samico).

 

Gravado no Estúdio Via Som por Paulo Germano Filho, entre janeiro e março de 2007. | Mixado no Estúdio Via Som por Paulo Germano Filho, Geraldo Maia, Publius e Rodrigo Samico. | Masterizado por Paulo Germano Filho.

 

Administrador  do  Projeto  junto  ao  Funcultura: Vicente Monteiro

 

 

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